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A odisséia da felicidade

Atualizado: 2 de jul. de 2020

por Cristiane D'Avila

Onde se encontrará o sentido de felicidade ou busca do homem pela mesma no poema épico de Homero, a Odisséia? Partiremos do príncipio de uma investigação sobre um sentido de felicidade. Nomeando-a de “primeira ordem”, como a felicidade natural ou biológica, como sendo o sentimento que se reflete em uma plena satisfação consigo mesmo e com o seu meio ambiente, consequência de uma vida em harmonia com a natureza, natureza que nada mais é do que a fonte para a manifestação de sua própria existência, em “segunda ordem” como a felicidade anti natural ou cultural, como sendo a realização de seus desejos idealizados para dar sentido a existência ou a vida natural, uma busca da razão, do ser e de sua razão de viver. Odisseu em sua jornada de retorno triunfal da guerra de Tróia, chega ao lar em Ítaca após 10 anos de grandes desafios. Em seu esforço de gêneros físico, racional e anímico, convicto, pretende vencer todos os obstáculos e realizar seu forte desejo íntimo de voltar para casa e reencontrar aquilo que seu coração anseia. Seria uma uma conhecida felicidade? Representada no poema de Homero por sua esposa Penélope, que traz consigo o lar, a mulher/mãe, o filho e o pai. Porém, pelo caminho de Odisseu para o retorno há cantos de passagens por ilhas, cavernas , submundos, marés de toda espécie e inúmeros desafios com seres ameaçadores e deuses poderosos, há convites de deusas maravilhosas com promessas de um novo lar e até de imortalidade, tudo para Odisseu não seguir adiante. Tudo isso atrasa sua ida à Ítaca mas, não a impede. Se felicidade consiste em viver de acordo com as ordens que foram menciondas acima, pode ser então Odisseu um representante da busca obstinada do homem pela felicidade de segunda ordem. Perceba que a felicidade de Odisseu sempre esteve com ele em Ítaca com sua família, ainda assim deu-se uma volta de 10 anos para retornar ao mesmo ponto. Ora, por ventura aqui procura-se resolver um problema da razão, através dela ele criou sua meta de felicidade, criou o desejo de sair para querer realizá-la e procura provar que com sua astúcia será possível conseguir. E a pergunta é: ao reencontrar Penélope, por quanto tempo sua mente ficará em paz com a vida simples, sem guerras, sem desejos? Por que foi preciso negar o natural, saindo de seu doce lar, ir para a guerra, ser anti natural, recordar as origens, lutar para voltar e provar a si mesmo que existe felicidade? Para Atenas, a deusa da justiça o que importa é paz, esse é seu conselho e, Odisseu ao jogar suas armas de guerra ao chão, ouve Atenas e então, ao final da Odisséia há promessa de boa aventurança; tal paz que faz parte da vida natural no entanto, se o homem não utiliza a razão para suprir necessidades básicas e viver em harmonia com a natureza e ao invés disso, cria desejos de ordem física ou mesmo metafísica, inicia-se a guerra! A guerra contra sua própria vida. Vida que no final poderá provar que o homem ao procurar a felicidade ou a um sentido de si mesmo que não seja de aceitação de sua condição animal, nada mais faz além de, andar em círculos. Nesse giro em círculos aprendeu muita coisa útil para a razão que, muito provável, nada ou pouco saiba sobre felicidade. Odisseu é enaltecido pelos deuses e reconhecido pelos homens como um exemplo de coragem, sabedoria e inteligência então, pudesse lhe perguntariamos: O que valeria toda a honra se não encontrastes a tua felicidade? Viveria como um eterno errante na roda da vida? Procurando o que não se precisa buscar? Que final seria esse? Vemos na Odisséia a genialidade de Homero quando soube dar fim para essa narrativa de encontro consigo mesmo através do reencontro com suas origens. Odisseu precisou ir para guerra e passar por tudo que passou na tentativa de enxergar-se melhor há uma certa distância de tempo e espaço. Avaliando a felicidade num sentido mais amplo, a humanidade hoje parece seguir o mesmo caminho de retorno de Odisseu, anti natural, causa confusão e gera sérias consequências sendo chamado a repensar sobre a origem de tudo, valorizar sua própria natureza, voltar aos significantes, tentar restabelecer e garantir sua própria vida em sua morada Gaya e, se assim conseguir, poderá cuidar de si mesmo e oxalá vir a saber no futuro o que é felicidade.


 
Cristiane d´Avila é fotógrafa e professora, foi fotojornalista do jornal O Estado de São Paulo e da Editora Abril e professora de fotografia na Universidade Paulista e no Centro Universitário Belas Artes para os cursos de publicidade e artes visuais. Vive em Garopaba desde 2002, é professora de filosofia, desenvolve um projeto de pesquisa de filosofia da fotografia.

A revisão ortográfica deste texto é de total responsabilidade do seu autor ou assinante da postagem publicada. A revista Escape só responde pela revisão ortográfica das matérias, editoriais e notícias assinadas por ela.

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