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Funcionários da máquina

ARTIGO DE OPINIÃO | FILOSOFIA DA FOTOGRAFIA

por Cristiane D'Avila


A imagem técnica como janela para o real age de forma a dar confiança ao olhar do observador que confia nas imagens tanto quanto confia em seus próprios olhos. O filósofo Vilém Flusser clama por uma filosofia da fotografia para que a práxis fotográfica seja conscientizada. Tal conscientização, segundo o filósofo, pode ser a chave para uma pesquisa sobre a atual crise cultural e as novas formas existências e sociais que, a partir da invenção da fotografia, estão se cristalizando.


Sob a perspectiva de Flusser a fotografia esconde em si seu verdadeiro significado ao representar o real e desta forma descompromete nossa inteligência em perceber a diferença entre o real e as aparências, e assim iludimo-nos crendo ver na fotografia a realidade ou a imagem real. Hoje deparamo-nos com o mundo contemporâneo repleto de máquinas que funcionam para nos servir com apelo imagético, como fotografia, cinema, televisão, computadores e celulares, e Flusser tomando como pretexto o tema fotografia - muito provavelmente, pelo fato da fotografia ser a percussora das máquinas funcionais que transformam imagens reais em imagens representações - alerta-nos dialogando filosoficamente sobre a possibilidade de uma tomada de consciência sobre nossa condição atual em relação às máquinas que fazem parte de nossas vidas, tais máquinas, participam de nosso cotidiano de forma tão automática e fluida que, parecem mesmo que, tais máquinas tornaram-se orgânicas.


A partir do instrumento máquina que fotografa Flusser, aponta as imagens técnicas como verdadeiros instrumentos de coerção social por parte de um sistema dominador. O filósofo deixa-nos claro que ao escrever seu ensaio ambiciona contribuir com um diálogo filosófico sobre o que ele chama de aparelho funcionalista, ou sobre a questão da máquina como modelo do mundo na atualidade. Quanto ao que ele chama de aparelho, é toda a criação de programas e máquinas construídas e fabricadas para que o homem as use, mas parece que o feitiço vira contra o feiticeiro, e são as máquinas que acabam por usar o próprio homem que as criou. Deste modo, o homem, criador dos aparelhos, encontra-se como que dentro de uma caixa preta, inconsciente do fato de ser usado por sua própria criação.


Nosso filósofo pressupõe que toda filosofia trata, em última análise, do problema da liberdade e considera urgente uma filosofia da fotografia como caminho para um real entendimento dos mecanismos em que a humanidade se encontra e indica o fotógrafo como chave inicial para o desvelamento da máquina cartesiana que rege o mundo atual e de uma conquista inevitável, a vitória do humano sobre a máquina.

 
Cristiane d´Avila é fotógrafa e professora, foi fotojornalista do jornal O Estado de São Paulo e da Editora Abril e professora de fotografia na Universidade Paulista e no Centro Universitário Belas Artes para os cursos de publicidade e artes visuais. Vive em Garopaba desde 2002, é professora de filosofia, desenvolve um projeto de pesquisa de filosofia da fotografia.

A revisão ortográfica deste texto é de total responsabilidade do seu autor ou assinante da postagem publicada. A revista Escape só responde pela revisão ortográfica das matérias, editoriais e notícias assinadas por ela.

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