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Hora do enfrentamento I

Atualizado: 7 de ago. de 2020

Durante a maior parte da minha vida, fui muito fodida financeiramente falando. Venho de uma família humilde, que nunca teve grana sobrando. Hoje, olhando para trás, vejo que isto não foi um grande problema para nós, pois nos acostumamos com o necessário. Meus irmãos e eu começamos a trabalhar muito cedo, ainda na adolescência, para ajudar no sustento da família. Justamente por isto, sempre tive dificuldade de pedir ajuda. Pensava eu, que sempre mataria no peito. Pensava eu, que tinha que provar que eu conseguiria superar todas as dificuldades por minha própria conta.


Houve uma época em que eu “julgava” as pessoas. Rotulava mesmo. Algo que não me orgulho. E havia no meu circulo uma pessoa próxima que era, sob meu rótulo, pão duro. Na verdade, esta pessoa era mesmo. E eu a criticava, pois ela tinha condições de ser menos canguinha. Ela vinha de uma família que tinha muita grana. Certa vez, eu precisei de ajuda financeira. Estava muito apertada com a falta de grana. Em todos os meus empregos, os meus salários sempre foram baixos e, em vários momentos da minha vida, justamente por não ter o hábito de pedir ajuda, me atolava em dívidas. Engoli meu orgulho e pedi uma grana emprestada para algumas pessoas mais próximas, mas nenhuma delas pode ou quis me emprestar. Pedi então, para esta pessoa que era pão duro. Ela deu umas voltas... sabe aquele pão duro que diz: “então, as coisas estão difíceis mesmo, estou com pouca grana, mas acho que posso te emprestar”.


Ela me emprestou. Consegui resolver meus problemas e paguei minha dívida, pois havia melhorado a minha situação e cumpri o prazo combinado. Coisa que, mesmo humildes, meus pais me ensinaram: “uma dívida sempre deve ser paga”.


Isto me fez refletir muito na época. Fiquei me perguntando: “Cláudia, tu já parou para pensar que esta pessoa só pode te emprestar o dinheiro porque é pão duro? Já parou para pensar o quanto tu a rotulou? O quanto tu rotula algumas pessoas?”. Eu não sei se meu pensamento realmente teve algum sentido. Mas eu preferi achar que sim. Preferi tomar a lição de não julgar as pessoas. Entendi que cada um tem sua história e não sabemos os porquês delas serem como são. Preferi entender que, mesmo ela sendo uma pessoa dura, que visivelmente tinha certa dificuldade em lidar com seu lado afetivo, ela demonstrara do seu jeito, a sua generosidade.


E eu aprendi uma das maiores lições que eu poderia ter recebido na vida. É libertador quando tu olhas para alguém, sem criar historinhas sobre ela. É libertador quando tu enfrentas teus medos e pede ajuda. E mais libertador ainda, quando este enfrentamento te mostra que existe generosidade e compaixão onde tu menos esperavas.

 

Cláudia Kunst,produtora cultural e jornalista. Produz shows, bandas e projetos há 20 anos. É quase uma workaholic e é apaixonada por música. Adora tatuagens, carros antigos e botas empoeiradas e um pouco de solitude.


A revisão ortográfica deste texto é de total responsabilidade do seu autor ou assinante da postagem publicada. A revista Escape só responde pela revisão ortográfica das matérias, editoriais e notícias assinadas por ela.

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