Olga Savary | poemas
Atualizado: 31 de mai. de 2020
Morre hoje, aos 86 anos, a escritora Olga Savary. Vencedora de vários prêmios literários, ela é uma das mais importantes poetas brasileiras da atualidade. A autora paraense foi a primeira mulher a publicar um livro de poemas erótico no Brasil. Fique aqui com três de seus poemas.

Hoje, infelizmente, a literatura brasileira perde mais um de seus nomes. Está sendo um ano muito difícil e de muitas perdas. Nascida em Belém, no dia 21 de maio de 1933, Olga Savary viveu em Fortaleza e no Rio de Janeiro, onde residia. Escreveu prosa e poesia. Entre os livros publicados neste último gênero estão “Espelho provisório”, o de estreia na poesia em 1970, “Sumidouro” (1977), “Magma” (1982), “Berço esplendido” (1987), “Rudá” (1994), entre outros. É com pesar que noticiamos a morte da poeta Olga Savary no dia de hoje, 16 de maio de 2020.
ÁGUA ÁGUA
Menina sublunar, afogada,
que voz de prata te embala
toda desfolhada?
Tendo como um só adorno
o anel de seus vestidos,
ela própria é quem se encanta
numa canção de acalanto
presa ainda na garganta.
AMOR
O que será:
este labirinto de perguntas
e resposta alguma,
este insistente rugir
de pássaros, este abrir
as jaulas, soltar o bicho
novelo que há em nós,
delicado/feroz morder
(deixa sangrar)
o outro bicho (deixa, deixa)
e toda esta parafernália
a parecer truque enquanto
obsidiante você mente
embora acreditando nas mentiras
e eu use os piores estratagemas
para cobrir-me a retirada
desse vicioso campo de batalha.
UM DIA, OSSOS
A manhã trouxe surpresa de ossos
Guardados em gavetas
Ou organizados atrás de opalescentes,
Dourados vidros,
No corredor propício ao mistério.
Então é o susto nos olhos
E o medo nas mãos inábeis
Tocando toda essa precária matéria
Antiga e clara
E tirando no toque o som de uma música
Escondida
Nessa antiquíssima,
Milenar memória.