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Precisamos falar sobre Letras Insubordinadas

Atualizado: 8 de jun. de 2020

Dentro de uma sociedade desigual em que as relações são baseadas em poder e hierarquias, opressão e privilégio, as crônicas e contos de Mariléia Sell nos revelam uma forma criativa de resistência.

A escritora Mariléia Sell, através de suas crônicas e contos, pinta retratos convincentes para as questões sociais. Letras Insubordinadas é o nome da coluna semanal que a autora escreve para o periódico Visão do Vale. Seus escritos traçam uma linha mais poética do que classicamente jornalística e mais filosófica que puramente investigativa e revelam, com acidez e sensibilidade, acontecimentos cotidianos a partir de um posicionamento crítico.

Além das publicações, no periódico visão do Vale, a autora republica os seus textos em seu site pessoal que leva o mesmo nome da coluna – Letras Insubordinadas. Mesmo que seus escritos não se detenham a um único tema, as discussões de gênero são o fio condutor do seu trabalho. Mariléia Sell é jornalista, professora dos cursos de Letras e Comunicação na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Doutorou-se em Linguística Aplicada, especializando-se na relação da linguagem com as construções de gênero, temática sobre a qual dá palestras em todo o estado do Rio Grande do Sul.

No site da escritora você ainda encontra a primeira fase de um projeto de tiras em quadrinhos chamado VALentezas. O projeto consiste em uma série de tiras com roteiros adaptados das postagens que a autora fazia em sua rede social sobre pequenas observações e vivencias de sua filha Valentina. Hoje você pode acompanhar as tiras, em sua segunda fase, no Instagram @valentezas.

Foto do acervo pessoal da autora | © Mariléia Sell

Para conhecer um pouquinho mais desta autora enviamos três questões por e-mail para que ela nos dê um pouquinho da sua visão sobre o seu trabalho e os acontecimentos da atualidade. Confira.


O escritor João Ubaldo Ribeiro diz que “escrever é falar de si mesmo”. Você vem escrevendo, desde 2017, uma coluna semanal para o periódico Visão do Vale e republicando as crônicas e contos no seu site Letras Insubordinadas. De acordo com a visão de João Ubaldo: de que maneira o seu caminho como escritora está relacionado com a sua trajetória pessoal? Até que ponto os chamados “fantasmas pessoais” contribuíram para sua formação como escritora?

Sobre a afirmação de João Ubaldo, eu concordo que todo escritor/a fala de si porque escrever é organizar o caos das experiências  na estrutura mais ou menos estável das narrativas. Escrever, como afirmava Clarice Lispector, é também um ato de existir, de dignificar as experiências, pois aquilo que não é narrado, é esquecido, é como se não tivesse existido. Cada vez mais, tenho me dado conta de que meus textos estão cheios de personagens reais, de lugares que existem de fato, mas, claro, quando escrevo, eu os ressignifico, os represento com as lentes da poesia, lentes informadas pelo meu repertório de  experiências, leituras, conversas, viagens, epifanias, tormentos.


Em seu site você anuncia que equilibrando uma forte influência do texto acadêmico com a profunda inspiração de textos literários, você forjou um estilo de escrita leve, porém contundente. Como ser leve em dias tão pesados como os que estamos vivendo?

Eu acho que pela arte a gente consegue levar as mensagens de forma mais leve porque a gente não precisa assumir o caráter de falar a Verdade, de convencer alguém através de argumentos racionais e plausíveis e, só por isso, as pessoas já ficam desarmadas. Pela arte, pelos contos que escrevo, neste caso, eu trago temáticas muito pesadas, como política, machismo, fome, suicídio, abuso, hipocrisia mas sem a pretensão de ter razão, apenas quero tocar as pessoas, acionar nelas sentimentos. Justamente por isso é que acredito na potência da arte porque ela nos atinge por vias mais subjetivas, mais profundas.


Nós brasileiros/as, além da pandemia que assola a humanidade, estamos lidando com um vírus terrivelmente pior: o político. Nesta última semana, você afirmou em sua rede social que “é dever cívico e moral de cada brasileiro/a se insurgir” contra essa política negacionista. Gostaríamos de ouvi-la mais sobre o assunto.

Quando falo em insurgência, falo dessa postura de reafirmar a arte, a educação e a ciência. Ler, estudar, valorizar e ouvir as pessoas que passaram a vida estudando uma determinada área  é um ato de insurgência porque é uma afronta à ignorância, ao senso comum que é, no mais das vezes, raso e preconceituoso. Nosso dever como brasileiros/as, neste momento, é o de não aceitar a necropolítica, o ódio e a estupidez que se instalaram no poder. Isso não pode nos representar enquanto povo, isso afeta profundamente a nossa identidade, a nossa percepção sobre quem somos.  Acredito que depois da pandemia e depois do Bolsonaro, sim porque não há mal que sempre dure, a gente vai ter mais elementos para uma reformulação identitária que, como estamos vendo, é necessária. Sempre foi, mas talvez a gente não tinha essa consciência.



Foto do acervo pessoal da autora | © Mariléia Sell
 

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Entrevista: Daniel Cunha | Jornalista Responsável: Cláudia Kunst | Revisão Ortográfica: Juliane Sperotto | Editoração, Layout e Web Design: Daniel Cunha 

Para maiores informações mande o seu e-mail para revistadigitalescape@gmail.com

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