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Quando o mundo acabou

COLUNA

MUSEU DE TUDO

Os bracinhos magros e escuros do bonsai caídos ao longo do corpo e meu avô sentado sobre o segundo batente, contemplando a árvore miúda que morrera de abandono e melancolia enquanto esperava por nós.


Foram tantos os dias que passamos trancados dentro da casa que as contas de minha mãe divergiam por meses das de meu pai, mas sabíamos ter sido tempo o suficiente para que o bonsai de meu avô não tivesse resistido à nossa ausência.


Ele não chorava. Ele, meu avô. Aliás, nem ele nem o bonsai. Assistia sem esperanças à pequena árvore que cultivara por tantos anos, agora morta como tantos de nós. Tomei sua mão e não lhe disse nada, ao que meu avô respondeu sem sorrir: o mundo acabou, meu filho, então é hora de plantarmos árvores muito maiores.

 
Theo Alves é escritor e fotógrafo, publicou vários livros de contos e poesias e atualmente é colunista do periódico Potiguar Notícias (RN). Como fotógrafo, dedica-se em especial à fotografia documental e de rua. Também ministra aulas de fotografia digital com aparelhos celulares em projetos de extensão do IFRN, onde é servidor.

A revisão ortográfica deste texto é de total responsabilidade do seu autor ou assinante da postagem publicada. A revista Escape só responde pela revisão ortográfica das matérias, editoriais e notícias assinadas por ela.

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