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Da máquina de avessar os dias ao enterro do cão

Atualizado: 15 de jul. de 2020

Prestes a publicar seu primeiro livro de contos pela Editora Patuá, o escritor potiguar Theo G. Alves conversou com a Escape e falou sobre este momento tão especial que, após o processo de maturação do livro “por que não enterramos o cão?”, por longos 20 anos, terá sua distribuição dentro de alguns meses.

Com talento ímpar, sua linguagem ora rebuscada, ora simplista, seus conteúdos explicitam uma rotina voraz pela literatura, com nuances das suas principais referências de vida. Esta entrevista mostra um pouco sobre quem é Theo G. Alves num universo crítico, mas poético; sensato e, por vezes duro, mas ainda assim doce e romantizado.


Nesta entrevista, Theo dá sua opinião precisa sobre o mercado editorial no Brasil, sobre a importância da imprensa na cultura, entre outros temas.



No Instagram: @theoalvesphoto | no Facebook: @museudetudo | 
na rede: portfólio

Foto do acervo pessoal do autor | © Theo G. Alves

Você já publicou três livros contendo poesias e contos – em 2009, lançou o pequeno manual prático de coisas inúteis (poesia e contos); em 2015, a máquina de avessar os dias (poesia), ambos pela Editora Flor do Sal, em 2018, o terceiro livro doce azedo amaro (poesia), através de financiamento coletivo e agora está prestes a publicar teu primeiro livro só de contos pela Editora Patuá, sendo o quarto de carreira. Já tem título para este primeiro livro de contos?

Sim. Depois de passar por vários títulos, o livro chegou a um definitivo: por que não enterramos o cão?, que é também o título do conto que abre esse livro. Foram quase duas décadas de trabalho neste material. Muitos contos saíram do projeto original, outros tomaram lugar. Tanta coisa foi modificada, entre elas os títulos do livro. Lembro de pelo menos três antes deste.

Você vai lançar seu próximo livro pela Editora Patuá. Nós, aqui da revista, acompanhamos e nos motivamos com o trabalho que esta editora paulista vem realizando. A Patuá tem dado espaço a autores emergentes, de todos os cantos do Brasil, levando ao leitor livros com um belíssimo acabamento gráfico e sem deixar de lado a excelência literária. Você pode nos contar, um pouco, como foi este encontro?

Eu estou imensamente feliz pela publicação com a Patuá. Trabalhar com o Eduardo Lacerda, que é muito mais que apenas o Editor da Patuá, afinal ele é a pessoa que trabalha desde a escolha dos autores a serem lançados até o envio dos livros vendidos, é uma grande alegria para mim. Eu sou um admirador do trabalho desenvolvido pela Patuá, dos escritores que ela publica, do cuidado gráfico e da importância que ela tem no cenário da literatura brasileira de hoje. Editoras como a Flor do Sal, a Moinhos, Penalux, Urutau e a Patuá são fundamentais neste momento porque elas oferecem um respiro, um sopro de novidade vindo do que se tem escrito no país.

Você recebeu o prêmio nacional Ignácio de Loyola Brandão de literatura pelo conto por que não enterramos o cão?. O que significa esse reconhecimento e que relevância tem para a sua obra?

Por que não enterramos o cão? foi o conto vencedor da edição 2018 do prêmio, o que me deixou feliz. Eu confesso não me preocupar muito com prêmios e concursos, raramente participo deles, mas uma vez ou outra estou entre selecionados de alguma coisa.

Não tenho dúvidas de que toda forma de reconhecimento é positiva e prêmios são importantes por abrirem algum espaço em cenários nos quais muitas vezes não estávamos. Por isso, creio que os prêmios não sejam exatamente uma chancela ou um atestado de qualidade para um trabalho, mas são uma oportunidade de estar presente em novos espaços. Nunca penso em um prêmio como motivo para deslumbre, assim como também não penso que não ser o vencedor de algum seja um demérito.

Foto do acervo pessoal do autor | © Theo G. Alves

Já é mais do que sabido que a produção literária nacional não tem a devida atenção e voz, nem como uma forma de incentivo à leitura, por parte dos meios de comunicação tradicionais do Brasil. A atuação da imprensa brasileira em relação à literatura o incomoda?

Tenho a sensação de que a imprensa poderia se interessar mais pela literatura feita aqui. Mas acho que ainda mais importante é que o público leitor se interesse mais também. Aliás, é fundamental que esse público leitor seja ampliado, que ele cresça a partir das escolas, que estabeleça alguma proximidade com os escritores de seus locais, com os livros produzidos ao seu redor.

A imprensa reage aos acontecimentos e a literatura precisa acontecer para o público. Neste momento, a participação do poder público nessa área seria mais importante e geraria eco na imprensa. É preciso que os governos em toda a sua esfera tenham preocupações com seus leitores e escritores: que haja programas de incentivo à criação literária e à leitura, que se permitam incentivos para editoras e que se possa custear a produção de livros. Também é absolutamente fundamental que essa produção percorra o país, que chegue às escolas, aos leitores. Se isso acontecer, a imprensa olhará mais atentamente para a literatura brasileira.

De que maneira o amadurecimento de sua carreira como escritor está relacionada com sua trajetória pessoal?

Eu sou o que escrevo. Não de forma confessional porque não é assim que escrevo. Mas tudo o que está lá sou eu de alguma forma: as reações de meus personagens são as que pude enxergar: os acontecimentos, as cenas, os movimentos ou a ausências deles sou eu. Então, o que aprendo ao longo do caminho também se torna o que escrevo. Acredito que a jornada é o destino. O por que não enterramos o cão? é um exemplo de que caminhar é mais importante que chegar, porque foram quase vinte anos trabalhando em um livro que não pode ser resumido para mim em sua publicação ou não. Ele é meu aprendizado e minha desconstrução. Eu sou meu livro e cada leitor que o encontrar terá de mim algo que pertencerá muito mais a ele do que a mim.


De que maneira você observa a questão da formação de leitores no Brasil? Você acredita que o quadro tem melhorado de uns anos para cá ou os números oficiais são apenas números e não refletem o interesse do leitor pela literatura?

Como disse antes, acho que carecemos de um público leitor, da formação de um. E quando falo nessa formação de público não é algo como criar uma obrigação sem sentido para crianças e jovens lerem. Pelo contrário. É algo orgânico, de fazer chegar até esse público o livro. O interesse pela leitura se dá pelo contato, pelo acesso, por poder descobrir o que se quer ler, o que se gosta. Sem isso, não há formação de leitores porque a literatura continuará sendo algo que os adolescentes vão continuar atribuindo a velhos brancos, héteros e de classe média, que morrem de tuberculose no século XIX.

Creio que as pessoas leiam mais. Mas ainda é muito pouco. No entanto, como esperar que as pessoas leiam se não há bibliotecas, salas de leitura, incentivo e facilitação do acesso ao livro? Esperar que os brasileiros começassem a ler massivamente do dia pra noite é esperar uma nova anunciação do anjo Gabriel, desta vez com o Memórias Póstumas de Brás Cubas na mão.

Que importância tem (ou pode ter) a literatura na vida cotidiana das pessoas?

A arte – e aí está também a literatura – é o que diminui nossa bruteza. Estamos tão acostumados a apenas sobreviver, a lutar para poder comer e ter onde morar que acabamos por esquecer de que ser humano é mais que isso. A transcendência, a capacidade de catarse, de compreensão do mundo, das pessoas, do tempo, daquilo que nos diferencia dos outros animais só são possíveis através da arte. Há em nós uma capacidade de sonhar, de provocar, de crescer, de intuir que a arte alimenta, porque é ela que nos permite ser menos sós. É ler um livro do Valter Hugo, Mãe sobre gêmeas na Islândia, e saber que, de alguma forma, essa história é sobre nós. Ler Guimarães Rosa e se sentir menos só no mundo é algo que apenas a arte pode oferecer e sem o qual seríamos menos felizes, menos completos.

Você acredita que as séries de TV, muitas delas baseadas em obras literárias, efetivamente conseguiram substituir um papel que seria dos romances no que se refere ao imaginário e à galeria de personagens?

Há em nós uma enorme necessidade de ficção, de sonho. Isso é algo que subestimamos muito, mas que aparece de maneira brutal num momento como o que estamos vivendo: precisamos de arte, de ficção, seja como for. Não creio que as séries estejam tomando o lugar dos livros. Já nos perguntamos isso muito tempo atrás sobre o cinema. Já dissemos que o advento do disco acabaria com a música ao vivo, que a TV acabaria com o cinema, que o streaming acabaria com a TV e com a ideia de álbum musical... Essa é uma batalha comercial, uma luta pelo domínio dos meios de produção e comercialização. E o problema não é haver as séries. O problema é não termos tempo e o pouco acesso aos livros, além de não aceitarmos a reflexão e a contemplação como parte de nossas vidas. A literatura exige muito de seus autores, mas também de seus leitores. Eu posso apenas me deitar com um celular na mão e assistir a quatro episódios seguidos de uma série na Netflix, sem pausas, sem pensar sobre o que vi, sem sentir tempo da cena, sem contemplar o que vi. Posso fazer isso em qualquer tempo livre que tiver, por mais cansado que esteja. Por outro lado, o livro exige atenção, concentração, aprofundamento. Perder a leitura de uma frase condena todo um parágrafo. Depois, é necessário pensar, ouvir os ecos do que acabou de ser lido e seguir com um verso ou frase martelando a sua cabeça por horas ou por dias. A literatura exige tempo e pausa. E aprender a encontrar essas coisas no ritmo de vida em que vivemos é um desafio maior que aqueles propostos pelos livros.

Talvez, estejamos vivendo hoje o pior momento no mercado editorial brasileiro. As, já escassas, livrarias brasileiras vêm fechando as suas portas de norte a sul do país. As Editoras, com recursos muito limitados, encontram maiores dificuldades para divulgar e distribuir os seus livros. Por outro lado, as plataformas digitais oferecem novo folego para este mercado. Como você vem percebendo esse movimento no mercado editorial literário?

A nossa falta de livrarias está diretamente ligada à falta de leitores. Uma livraria não precisa ser apenas um comércio, mas é também um comércio. Sem leitores, sem clientes, sem lojas. Por isso a maior parte das livrarias do Brasil está na confusão dos shoppings, entre cafés e lojas de roupa. As livrarias de rua são cada vez mais raras por todo o país, assim como os sebos.

O mercado dos livros eletrônicos ainda me parece uma realidade fictícia, por mais paradoxo que isso possa soar. No Brasil o mercado de e-books ainda é relativamente pequeno e os custos de comercialização não justificam a escolha por eles. Talvez esse seja um mercado maior para livros não literários, de entretenimento e de consumo rápido.

Mas, independente do formato, em papel ou eletrônico, o livro segue sendo o livro, como a música segue sendo música, independente de ser ouvida no Spotify ou num vinil. Cada um tem suas peculiaridades: o livro em papel e o vinil são quase objetos de culto, afinal ainda não dá para colocar um e-book que você adora na sua estante. O e-book e a música por streaming são as soluções rápidas. Cabe a quem os consome decidir o que prefere.

Podemos dizer que a partir do crescimento das mídias sociais o autor emergente, além de produzir artisticamente, ele tem que ser o seu próprio agente, divulgador, distribuidor e vendedor de sua obra? Como você interpreta essa possibilidade?

Hoje os novos autores acabam precisando ser uma espécie de misto entre Shakespeare e um vendedor de Tupperware, infelizmente. Escrever o livro passou a ser apenas mais uma etapa do processo, o que é uma pena, já que para alguns desses escritores, eu entre eles, fazer divulgação, agenda, propaganda, venda, etc., é algo um bocado cansativo e que despende uma energia e uma habilidade que muitos de nós não têm.

Quando lancei A Máquina de Avessar os Dias, meu segundo livro de poemas, Adriano de Sousa, que foi meu editor e é um poeta que admiro muitíssimo, brincou me chamando de “poeta substantivo de péssimo marketing pessoal”. Era uma brincadeira com fundo de verdade, porque sou péssimo para me oferecer para eventos, pedir coisas, favores, oferecer ou vender o que faço, ou barganhar.

Continua sendo um desafio para mim, que sou muito tímido. Mas raramente recuso convites. Se me chamam para falar sobre literatura, fotografia, sobre meu trabalho ou sobre o que penso de outros assuntos, aceito quase sempre, seja para um público de 300 pessoas ou de pessoas. Seja virtual ou presencialmente. O que eu não sei fazer é pedir para ser chamado, pedir para ser convidado. E o mundo da literatura também tem suas panelinhas, os seus grupos, e às vezes é difícil ocupar esses espaços.

Na sua opinião, qual a importância das livrarias independentes no fomento e incentivo à leitura e na cadeia do livro como um todo?

O incentivo à leitura e à escrita precisa ser uma política de Estado, precisa ser mais que uma aventura comercial arriscada ou algo limitado à publicação de quem pode pagar por ela. As pequenas editoras hoje fazem um trabalho de garimpo, de seleção que as grandes editoras não têm o menor interesse em fazer. Para as grandes editoras, a publicação é um negócio e mais nada. Você mede o sucesso de um livro por seus números de venda, não pela qualidade do livro.

Enquanto isso, as independentes também compreendem o livro como negócio, mas não apenas isso. Há um contato constante, um cuidado, um jeito de pensar o livro juntos, como algo orgânico, vivo. As tiragens geralmente são pequenas e isso é mais uma solução que um problema, porque se fosse necessário imprimir mil livros de todo autor, não teríamos a imensa quantidade de publicações que temos visto por aí nas mãos das pequenas editoras. Aliás, acho até que o título de “pequenas” é mais justo que “independentes”, porque essas editoras costumam ter duas, três pessoas trabalhando como loucos nelas e, embora o volume de trabalho seja enorme, o tamanho econômico dessas empresas é pequeno. Não dá pra chamar de independentes porque, no fim das contas, somos todos dependentes uns dos outros: editoras, escritores, leitores, todo mundo numa relação de interdependência, de coexistência.

Como aconteceu o gosto pela escrita em sua vida? Qual foi o seu primeiro conto e/ou poesia, vocês lembra?

Sempre tive um gosto peculiar pelas palavras. Minhas primeiras lembranças estão quase todas associadas a experiências com as palavras: a dificuldade de entender e pronunciar algo que minha avó me ensinava, os jogos de palavras que eu ouvia dela na minha primeira infância, meus vizinhos que tinham um vocabulário muito peculiar e que eu gostava de não entender, que me provocava.

Eu sempre gostei da palavra que me desafiava. Cresci numa casa que não tinha livros e tive a sorte de, aos 8 anos, encontrar uma caixa em que havia um Almanaque Abril de 1984 – já defasado em quatro anos – e o Espumas Flutuantes, do Castro Alves. Eu adorava ler as curiosidades do almanaque e o Espumas foi um alumbramento. Eu lia repetidamente esse livro, mesmo sem compreender o que aquelas palavras significavam exatamente. Sem perceber, eu comecei a compreender que a poesia é algo do corpo muito mais que das ideias. Depois disso, passei a ler os poucos livros das pequenas bibliotecas que havia em Currais Novos, cidade do interior potiguar em que eu vivia. Hoje, infelizmente essas bibliotecas são lugares tristes, empoeirados e muito sofridos.

Como escritor, não consigo lembrar exatamente do meu primeiro poema, mas lembro de tê-los escrito em uma máquina de datilografar pequena que ganhei de uma vizinha. Acho que comecei a escrever poesia para justificar a máquina no começo da adolescência. Dos contos eu me lembro melhor: eu tinha 16 anos e assisti ao filme Julieta dos Espíritos, filme em cores do Fellini, e aquela experiência foi tão assombrosa e deslumbrante que me deixou em uma necessidade imensa de criar imagens. Eu queria fazer imagens. Mas eu não tinha uma câmera, não sabia desenhar, não tinha nenhum recurso que me permitisse criar imagens a não ser a palavra. Foi o que fiz. Lembro que não terminei meu primeiro conto, mas ali eu entendi a importância de mostrar as coisas em vez de apenas dizê-las.

Fotografia e outras vertentes das artes

A fotografia também está na sua vida como expressão artística. Como aconteceu a entrada da fotografia em sua vida?

Como disse antes, eu tinha o desejo de fazer imagens, mas diante da impossibilidade à época recorri à literatura. Acostumei-me tanto a isso que demorei muitos anos até perceber que eu poderia fazer fotografia, já depois dos 30 anos de idade. Dei-me conta disso em meio à terapia e comecei a brincar com a câmera até me ver estudando, fotografando, devorando livros, pesquisando fotografia de maneira muito séria. Eu me dei conta de que a fotografia, especialmente a documental e a de rua que me interessam mais, permitia que eu conseguisse organizar e compreender melhor minha relação com o mundo e com o outro. É assim que eu consigo enxergar o mundo e ele me enxerga de volta.

Fale um pouco sobre os seus projetos com esta expressão artística.

Eu tenho desenvolvido muitas atividades com fotografia do universo do trabalho ou de comunidades em situação de algum risco na região em que moro, no interior do RN (Rio Grande do Norte). Aliás, vinha desenvolvendo e essa situação de pandemia pôs tudo em espera. O projeto que estava para começar uma semana antes do decreto de quarentena envolvia uma série de oficinas para jovens alunos do IFRN (Instituto Federal do Rio Grande do Norte), onde sou servidor, e de algumas outras comunidades em parceria com as secretarias de assistência social locais. O projeto envolve aulas de fotografia digital com celulares e o registro da vida, dos hábitos e formas de trabalho desenvolvidas nessas comunidades. Havia até uma exposição marcada para a segunda semana de maio e que foi adiada.


A literatura e música estão diretamente interligadas. Muitos artistas musicais, além de musicistas também são poetas, como grandes ídolos seus, tais como Bob Dylan, Neil Young, Leonard Cohen. Sua conexão com a música também é muito forte, não é? Você inclusive, tem uma dissertação de pós graduação em Metodologia de Língua Inglesa baseada na obra de Leonard Cohen, sob o título “Here I AM”: A intertextualidade entre as canções de “You Want it Darker”, de Leonard Cohen, e a Bíblia. Em que consiste esta dissertação, especificamente.

É verdade que a música é algo a que estou muito conectado. Sempre como ouvinte, como curioso e, às vezes, como pesquisador. Infelizmente, minha coordenação motora mal me permite cantar “Parabéns pra Você!” sem desafinar, então sou um músico frustrado, mas o ouvido é bom. Gosto muito dos músicos que vocês citaram, além de um enorme amor por samba e jazz. Adoro a música nova de Pernambuco e coisas que são chamadas de “alternativas” por aí. As músicas que ouço e outras coisas que vejo e leio acabam construindo um escopo, um alicerce que é por onde ando.

Quanto à monografia sobre o último disco deixado pelo Leonard Cohen, o “You Want It Darker”, ela faz uma leitura das relações intertextuais entre as letras do disco e as referências bíblicas presentes nele. É uma leitura sobre o olhar que Cohen adota a respeito da religiosidade, da vida e da morte em seu último disco.

Quais são os seus artistas preferidos, além de Cohen claro, e como eles influenciaram em sua vida pessoal e artística?

Leonard Cohen, Neil Young, Bob Dylan, Cartola, Noel Rosa, Paulinho da Viola, Miles Davis, John Coltrane, Thomas Stanko, Criolo, Salif Keita e atualmente Liniker, Martins, Cícero, Mônica Salmaso... Tanta gente. Boa parte do que aprendi a respeito de estética da palavra, de expressividade, de ritmo narrativo e das sensações vem da música. A música me emociona com alguma frequência e, às vezes, o que quero é provocar algo parecido no meu leitor.

Para conhecermos um pouco mais sobre Theo G. Alves, conte-nos sobre as demais referências artísticas em sua vida: literatura, cinema, fotografia, música.

Muita coisa serve de referência para mim. Objetivamente citaria: literatura: Juan Rulfo, Manoel de Barros, Jorge Luis Borges, Valter Hugo Mãe, Kafka, Jonathan Safran Foer. O cinema, que me influencia muitíssimo: Ingmar Bergman, Fellini, Wim Winders, o cinema argentino, muito do cinema francês. A fotografia me emociona demais e me ensina muito sobre o mundo: Elza Lima, Vivian Maier, Miguel Rio Branco, Duane Michals. Na música: Leonard Cohen, Miles Davis e Cartola. Mas há muitos, muitos, muitos outros nomes.

Quem é Theo G. Alves hoje?

Eu sou o que me tornei e o que fui tornado pelas coisas que vieram me construindo, me forjando na pedra fria dos dias. Eu sou meu caminho e caminho de dentro para fora e de novo para dentro do que sou. Será? (risos)

Que conselho você poderia dar para um escritor que deseja dedicar-se à literatura?

Leia. Escreva. Mas continue lendo, lendo muito. E escreva mais. Cobre-se, mas não exagere na cobrança, curta o caminho, o aprendizado. Nunca se julgue pronto, mas não se subestime. Ouça o que outras pessoas têm a dizer sobre o que você escreve, mas lembre-se que elas não têm a obrigação de estarem certas, por isso saiba medir quando disserem que você é o novo Machado de Assis ou quando disserem que você deveria se dedicar à matemática. E continue lendo porque é preciso ser um bom leitor para poder estabelecer filtros confiáveis para ler e avaliar o que você mesmo escreve.

Indique-nos:

Um livro: Pedro Páramo, do Juan Rulfo

Um disco: Kind of Blue, do Miles Davis

Um filme: O Sétimo Selo, do Ingmar Bergman

Um fotógrafo: Vivian Maier

 

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Entrevista: Cláudia Kunst, Daniel Cunha e Juliane Sperotto | Jornalista Responsável: Cláudia Kunst | Revisão Ortográfica: Juliane Sperotto | Editoração, Layout e Web Design: Daniel Cunha

Para maiores informações mande o seu e-mail para revistadigitalescape@gmail.com

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